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*Resposta do Editorial da Folha de São Paulo de 12 de agosto de 2015, encaminhada para
editoriais@uol.com.br
O Editorial Da Folha de São Paulo on line hoje é
sobre o julgamento do Supremo Tribunal Federal, que ocorrerá nesta semana, e
que poderá resultar na descriminalização drogas para uso próprio no Brasil. O
título é Liberdades Supremas.
O Editorial chama de avanço não tratar o usuário como
criminoso, em contraponto ao número apresentando pela Vara de Entorpecentes do
Distrito Federal, em comunicado assinado por 4 Juízes e 8 Promotores de
Justiça, que afirma que 80% dos traficantes são consumidores de droga; 95%
começaram o seu consumo na adolescência; 90% começaram com o consumo de maconha
e 85% dos usuários de droga freqüentaram a escola até a 8ª série.
E mais, que “A descriminalização passaria a impressão
equivocada de que o consumo de drogas não é perigoso ou arriscado, o que poderá
gerar um incremento no número de consumidores, visto que as drogas legalizadas
possuem mais consumidores do que as drogas ilícitas (75% da população já
experimentou bebida alcoólica, enquanto menos de 9% consumiu maconha (SENAD,
2005).”
Minha consternação com o Editorial da Folha é por viver a
questão da dependência química de perto, não apenas nos sinaleiros, ou como
quem freqüenta festas ou círculos de pessoas que são usuárias eventuais, mas
por ser Vice-Presidente de uma Comunidade Terapêutica, sem fins
lucrativos, que atua na prevenção e recuperação de mulheres dependentes
químicas há 17 anos.
Atuamos, através de nossa Diretora Técnica, especialista no
tema, em todos os Fóruns que tratam das políticas públicas que envolvem o
problema da droga em Goiás, no Grupo Executivo de Enfrentamento às Drogas, no
Fórum Goiano de Prevenção e Enfrentamento ao Crack, no Conselho Municipal de
Políticas sobre Drogas (COMAD), e com orientação a outras Comunidades
Terapêuticas através da Associação Goiana de Comunidades Terapêuticas e
caminhando junto com Amor Exigente.
Nossa vocação é ajudar mulheres a viverem livres da dependência
química, a conduzi-las na reconstrução de laços familiares, na reinserção em
comunidades saudáveis, no ensino do prazer com a cara limpa, na busca de sua
identidade e de seu amor próprio. As histórias todas começam com o uso
eventual, casual e festivo, e terminam em tragédias, em centenas de crianças
abandonadas em abrigos. A história mais comum, e uma residente em nossa
Comunidade é protagonista, é a mulher que já teve vários e vários filhos e
perdeu o pátrio poder de todos pelo uso de drogas. Helena, nome fictício,
chegou pra nós grávida do sexto filho, os outros cinco ela perdeu a guarda. O
pequeno nasceu prematuro e com DST, a mãe queria entregá-lo para adoção, mas
desde que voltaram da Maternidade ela tem se apaixonado a cada dia pelo bebê,
vivendo a maternidade com a cara limpa em uma Comunidade que a encoraja a
permanecer. Já a pequena Ester, que também nasceu em nossa comunidade, a mãe a
abandonou e, com lágrimas nos olhos, tivemos que entregar a pequenina para o
Conselho Tutelar. Será encaminhada para adoção.
Em todos esses anos, essas são apenas duas histórias, de
muitas que vivenciamos todos os dias. A Folha de São Paulo afirma “Gastam-se
bilhões de dólares em repressão”, mas não calcula o custo da recuperação,
da reinserção e dessas milhares, aí sim são milhares mesmo, de crianças filhas
do crack que estão hoje órfãs.
Pode parecer vanguardista, moderno, politicamente correto e
engajado esse discurso de legalizar o consumo, mas para nós, para o poder
judiciário, para os conselhos tutelares e os abrigos, as histórias de abandono
e orfandade tem nome e começaram quando alguém ofereceu um inocente baseado
para consumo próprio.
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Um simples baseado - Resposta ao Editorial da Folha de São Paulo de 12 de agosto de 2015.
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Oleh
Liz Vecci